segunda-feira, 13 de setembro de 2010




Comedia del'Arte e sua psicologia

Tal como toda obra, criação ou bem cultural, também a Comédia del'Arte também consiste num produto de sua época.

Através dessa arte, desse teatro, nos é possível compreender qual a imagem do homem que era refletida no espelho da arte.

Numa sociedade caracterizada pela onipresença e onipotência da instituição religiosa, os valores religiosos devem marcar o que se produz então.

No caso de uma sociedade cujos valores são os de uma sociedade judaico-cristã, o que se produz será marcado profundamente com tais valores, valores judaico-cristãos.

Ao teatro popular como a outras formas de arte e conhecimento, cabe criar uma imagem do ser humano. É nessa imagem que podemos no olhar para nos identificar, para saber em que nos tornamos.

Por mais que à cultura a função de socializar, de 'naturalizar' os valores próprios, é também a cultura que nos possibilita o distanciamento e o confronto.

Por que essa introdução? Por que os tipos criados pelo teatro da comedia del'arte ainda são uma constante em nossa sociedade, tais como os valores no seio dos quais esses tipos foram criados e hoje continuam sendo reinventados, atualizados.

Os tipos criados pela comedia del'arte consistem em tipos sociais que são criados seja positiva, seja negativamente, em função dessa cultura religiosa.

Numa sociedade judaico-cristã são valorizados o monoteísmo, uma imagem do ser humano baseada na unidade. Além disso, os valores judaico-cristãos também convergem para a criação de tipos que caracterizem tendências que devem ser evitadas pelos bons cristãos. Algumas delas são a lascívia, gula, preguiça, avareza entre outras.

Por isso o teatro foi um dos mais eficazes meios ou instrumentos de catequização utilizados pelos sacerdotes. Nele podemos ver caracterizada não apenas as tendências naturais que fazem do ser humano um ser humano, podemos visualizar também a imagem daquele que se debate com tais tendências, que as vê de fora e pode julga-las: o ser humano (cristão).

Segundo os textos pesquisados, os personagens se dividem em três categorias. São os enamorados, os velhos e os criados.

Os enamorados eram os mocinhos da história. O máximo de característica que lhes era atribuído era alguma inocência.

Os enamorados não usam máscaras, pois sua função será justamente compor um ego coletivo, o protagonista no qual o público se reconhecerá sem nenhum problema ou crise.

Há um contraste entre os enamorados e outros personagens que não usam máscaras, como as criadas, e os personagens que as usam. Estes sempre tem sua postura e gestos exagerados, marcando uma realidade nada naturalista.

Os velhos e os criados, por sua função na estrutura dramática, são personagens que usam máscaras.

A máscara simboliza a estereotipação que é característica dos personagens da Commedia.

Tanto Pantalone, como Dottore são personagens mascarados que figuram velhos. Ambos são figuras cuja erudição é satirizada.

Os criados são chamados zannis. Dividem-se em dois tipos: o esperto e o simplório, cada um operando na trama segundo tais características. O zanni mais popular é Arlechino. Com sua esperteza ingênua torna-se motor das ações que se desenvolvem na trama.

Outro zanni é Pulcinella. Tem corcunda e ventre proeminente e suas características zoomorfas, tais como nariz bicudo e voz estridente, o associam a uma ave.

É importante entender que este universo da commedia dell'arte perdura nos meios populares tais como os programas cômicos dos mass media.

Ao longo do século vinte, se o trabalho do ator, teve como base esse tipo de comédia baseada nos tipos, por outro lado também conheceu um vasto caminho na prática de desconstrução dos tipos e de um teatro baseado nos tipos. Foi a partir daí que o teatro pode contribuir como outras imagens da psique com que nos imaginarmos.

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